Durante 12 rodadas do Campeonato Brasileiro, o Botafogo levou aos gramados uma das ações mais potentes do ano — e que passou despercebida por quase todo mundo. Uma pequena mancha escura, de apenas 4 milímetros, posicionada discretamente na parte de trás das camisas dos jogadores, ao lado dos números, foi o centro de uma campanha de conscientização sobre o câncer de pele.
Sem logotipo, sem cor chamativa, sem slogan: apenas uma sutil interferência visual para provocar um impacto silencioso e necessário.
Criada pelas agências End to End e Área 23, em parceria com o Instituto Melanoma Brasil, a campanha “O Patrocínio Que Ninguém Viu” buscou chamar a atenção para os riscos do melanoma, o tipo mais grave de câncer de pele. A provocação era clara: será que alguém notaria uma pequena mancha se ela estivesse crescendo lentamente, dia após dia? Essa era justamente a dinâmica do projeto.
A cada partida, a mancha aumentava de tamanho, espelhando o comportamento silencioso e progressivo da doença, que muitas vezes é ignorada nos estágios iniciais por ser visualmente discreta.
A revelação da ação aconteceu apenas após 12 jogos, quando o clube publicou em suas redes sociais a pergunta: “Você reparou na camisa de hoje?”. A resposta surpreendeu muitos torcedores, que revisitaram imagens das partidas tentando identificar a tal alteração.

Além das redes sociais, a campanha contou com o site opatrocinioqueninguemviu.com.br, onde o público podia aprender mais sobre o melanoma, seus sintomas, formas de prevenção e importância da detecção precoce. O projeto reforçou ainda que o futebol, com toda sua visibilidade e emoção, pode ser uma plataforma eficaz para promover temas urgentes de saúde pública.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil registra mais de 200 mil novos casos de câncer de pele por ano, e o melanoma, embora represente apenas 4% desses diagnósticos, é responsável por 80% das mortes relacionadas à doença. Quando diagnosticado precocemente, as chances de cura são superiores a 90%. É justamente por isso que o Instituto Melanoma Brasil vem investindo em campanhas de impacto como essa, que unem criatividade e propósito para gerar informação de forma acessível e memorável.
Rebecca Montanheiro, presidente do Instituto Melanoma Brasil, explicou que o câncer de pele pode surgir em qualquer parte do corpo e que a vigilância constante é essencial. “A ideia da mancha invisível é brilhante porque mostra exatamente como o melanoma atua: ele está ali, mas a gente não vê. E quando percebe, pode ser tarde demais”, declarou.
Já Pedro Souto, diretor de marketing do Botafogo, destacou que o clube entendeu seu papel social além do campo: “Essa campanha mostrou que, muitas vezes, o que não vemos é o que mais precisa da nossa atenção. O futebol tem força para comunicar mensagens importantes, e essa é uma delas.”

A ação “O Patrocínio Que Ninguém Viu” mostra que a publicidade pode ser muito mais do que persuasão e consumo — pode ser ferramenta de transformação, de alerta e de cuidado. Em um universo onde a disputa por espaço nas camisas de futebol vale milhões, o Botafogo abriu mão do comercial para comunicar algo que, de fato, importa.