Em um dos casos mais curiosos envolvendo publicidade e direitos do consumidor, a Red Bull enfrentou um processo judicial nos Estados Unidos por causa do seu famoso slogan “Red Bull te dá asas”. A ação, movida em 2013, terminou com um acordo milionário e levantou debates importantes sobre promessas publicitárias e linguagem criativa.
O caso: quando a metáfora virou problema
Tudo começou quando Benjamin Careathers, um consumidor habitual da marca, decidiu levar a Red Bull aos tribunais. Segundo ele, a promessa implícita de que o energético melhoraria seu desempenho físico e mental não foi cumprida, mesmo após anos de consumo. Em sua argumentação, Careathers afirmou que a empresa promovia o produto com base em alegações enganosas, sem respaldo científico.
O slogan “Red Bull te dá asas”, conhecido globalmente, era o foco principal do processo. Embora claramente metafórico, o autor alegou que a marca cultivava a ideia de que o energético oferecia benefícios reais à performance dos consumidores, algo que, segundo ele, nunca foi comprovado de forma objetiva.
O desfecho: um acordo de US$ 13 milhões
A ação coletiva gerou repercussão imediata e foi encerrada em 2014 com um acordo extrajudicial. A Red Bull concordou em pagar US$ 13 milhões para encerrar o processo, sem admitir qualquer culpa ou erro em suas campanhas. Como parte do acordo, a empresa se comprometeu a reembolsar até US$ 10 para cada consumidor americano que tivesse comprado o produto entre 2002 e 2014.

Os interessados não precisavam apresentar comprovantes de compra — bastava preencher um formulário no site criado para isso. O caso rapidamente se espalhou pela internet, gerando memes, reações irônicas e também discussões sérias sobre os limites da publicidade criativa.
Uma lição para o marketing: prometer com responsabilidade
Embora o processo tenha sido tratado com certo humor por parte do público, ele evidenciou um ponto fundamental no marketing contemporâneo: a responsabilidade sobre aquilo que se promete. Mesmo que um slogan seja metafórico ou simbólico, ele pode ser interpretado de maneira literal — principalmente se associado a outras mensagens que sugiram resultados objetivos.
No centro da questão está o equilíbrio entre criatividade e clareza. Marcas que trabalham com publicidade precisam entender que slogans, conceitos e campanhas não são apenas peças estéticas: eles criam expectativas reais. E quando essas expectativas são frustradas, o consumidor pode recorrer a caminhos legais.
A Red Bull e a força do branding
Apesar do processo, a imagem da Red Bull pouco sofreu a longo prazo. A marca continua sendo uma das mais fortes no setor de bebidas energéticas, com presença global e ações de marketing ousadas — como patrocínios esportivos, eventos radicais e conteúdos audiovisuais de alta produção.
O caso serve mais como um marco do que como um dano reputacional. Ele reforça o cuidado que profissionais de comunicação devem ter ao criar campanhas: é possível ser criativo e provocativo, sem ultrapassar os limites da veracidade e da ética.